O MELHOR DA ARQUITETURA
Tempo de ser generoso
Diante de tantos desafios no Brasil e no mundo, cresce a atuação voltada a situações vulneráveis. Seja em grupo ou individualmente, arquitetos delineiam um movimento inspirador – bela discussão sobre o que é O Melhor da Arquitetura
Luciana Jardim e Silvia Gomez
Arquitetura & Construção – 06/2014
Esta reportagem faz parte da série O MELHOR DA ARQUITETURA, em homenagem ao prêmio criado pela revista Arquitetura e Construção
A arquitetura pode mudar o mundo? Se é pretensioso pensar que sim, pelo menos conseguimos afirmar que ela tem tentado. Talvez porque não possa ignorar os apelos atuais: mudanças climáticas, crescimento demográfico concentrado em regiões carentes de infraestrutura e núcleos urbanos complexos (a ONU – Organização das Nações Unidas estima que, até 2050, 70% da população mundial viva em cidades). “A habitação social preocupa os melhores arquitetos desde o movimento moderno”, contextualiza Ruben Otero, professor da Escola da Cidade.
Em resposta aos novos e muitos dilemas de hoje, multiplicam-se as ONGs e os escritórios envolvidos em soluções para melhorar a vida de milhões de pessoas. Entre as ações notáveis está a do arquiteto japonês Shigeru Ban, que se dedica voluntariamente à reconstrução de regiões atingidas por desastres naturais. Ele desenvolve estruturas temporárias de pontes, escolas e abrigos com materiais recicláveis. Como reconhecimento, recebeu, neste ano, o Pritzker, o prêmio mais importante da área. Conheça mais iniciativas dessa natureza que despontam pelo mundo.
DIGNIDADE AOS REFUGIADOS
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Segundo a ONU, há 45,2 milhões de refugiados no mundo. A arquiteta Abeer Seikaly convive com essa realidade. Seu país, a Jordânia, acolhe milhares de pessoas, sobretudo da Síria (atualmente, são 596 mil vindas de lá). Tal situação levou Abeer a desenvolver o projeto Weaving a Home, um dos vencedores do prêmio Lexus Design 2013, do site Designboom.
O tema do concurso era Movimento – nada mais apropriado que a tenda de tecido elástico inspirada nas tribos nômades beduínas. “Cresci vendo minha avó elaborar tapeçarias, e minha mãe costurar nossa roupa. Essa proposta fala de ambientes dignos, que podemos construir com os recursos disponíveis e nossas próprias mãos”, diz Abeer. Ainda protótipo, o desenho sugere uma estrutura leve, facilmente desmontável para transporte. Seus módulos são compostos de uma moldura de tubos plásticos flexíveis, os quais tensionam a pele têxtil. Em alguns pontos, aberturas forjam janelas. Em outros, bolsões servem ao armazenamento. “Em geral, os abrigos são complicados de erguer e pouco adaptáveis aos variados tamanhos dos grupos, além de carecer de confortos básicos como luz natural.” Mas, para Abeer, não se trata apenas de responder a uma emergência. “Essas casas deveriam também reconstruir a ideia de comunidade, transformar aquilo que sobrou em algo familiar.”
Que tipo de educação os arquitetos devem receber para promover mudanças em seu contexto? – Abeer Seikaly, arquiteta
IDEIAS PARA FLUTUAR
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Formada também de ilhas, Lagos, na Nigéria, tem uma população que cresce vertiginosamente. Hoje, são mais de 21 milhões de habitantes, e ela já figura como uma das megacidades do mundo. No cenário de desigualdade social e urbanização caótica, cerca de 100 mil pessoas acabaram empurradas para sua borda, obrigadas a viver numa comunidade sobre águas, a carente Makoko.
A situação ganhou atenção mundial após um surpreendente projeto, finalizado em 2013, aparecer ali. Criada pelo arquiteto Kunlé Adeyemi, do escritório NLÉ, com sede em Amsterdã, a Escola Flutuante de Makoko acaba de receber indicação ao prêmio Designs of the Year 2014, do Museu de Design de Londres.
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