Em 2011, o termo crowdfunding começou a se popularizar no Brasil com a criação da primeira plataforma de financiamento coletivo voltada para projetos criativos do país, o Catarse. Desde então, o número de sites nacionais nesse segmento cresceu e o uso de ferramentas para viabilizar o desenvolvimento de projetos por meio de contribuições financeiras coletivas tem encontrado cada vez mais adeptos e apoiadores.
No início deste ano, a pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil, realizada pelo Catarse, revelou que 65% dos financiadores que já utilizam a plataforma gostariam de apoiar projetos voltados à Educação, sendo que 36% acredita que faltam iniciativas relevantes na área. A pesquisa ainda apontou que apenas 6% das pessoas que participaram de alguma forma de financiamentos coletivos eram profissionais de Pedagogia e Educação.
Segundo o jornalista e coordenador de comunicação do Catarse, Felipe Caruso, a pesquisa mostrou que há um potencial para projetos educativos no crowdfunding e a Educação atendeu ao chamado. “Hoje, na plataforma, estão disponibilizados oito projetos na área. Isso é mais do que os sete que já foram financiados desde que o Catarse começou, há três anos. Foi algo que cresceu muito rápido e parece que, com a pesquisa e a divulgação que foi feita, as pessoas descobriam o financiamento coletivo como possibilidade para o desenvolvimento de projetos em Educação”, disse.
De acordo com Caruso, entender o modelo e conseguir mobilizar redes e pessoas são os maiores desafios para que as iniciativas alcancem o apoio necessário. “Os projetos precisam ter começo, meio e fim bem definidos. O criador determina o prazo para atingir a meta mínima do financiamento e começa a preparar a campanha. Cada um é responsável por divulgar o projeto a partir dos seus conhecimentos. A contrapartida do minipatrocínio é a recompensa não financeira que se oferece para o apoiador. Se o projeto não atingir a meta, o dinheiro volta para o apoiador. É uma ferramenta mais ágil e menos burocrática para conseguir recursos, mas é trabalhosa, exige planejamento e execução como qualquer outra”, explica.
Encontrar pessoas para dividir a ideia, elaborar a narrativa de como a história do projeto será contada e buscar transparência são alguns pontos fundamentais para financiar uma iniciativa de forma coletiva, aponta Caruso. “A ideia é que os projetos possam propor a disseminação do conhecimento de forma gratuita, algo que traga retorno para a comunidade e para as pessoas, se o retorno promove um bem coletivo e isso ficar claro, as pessoas contribuem. Tanto que, na pesquisa, 82% dos usuários do Catarse se disseram contra a participação do governo, isso demonstra que as pessoas enxergam a plataforma como da sociedade civil para a sociedade civil, e seria também uma ferramenta para que cada um possa fazer algo pela Educação do país”.
Na prática
O projeto de educação ambiental Escritório na Praia é realizado em São Luiz (MA) desde 2010. Este ano, com a falta de patrocínio, a idealizadora e coordenadora da iniciativa, Zeli Rocha, decidiu utilizar o Catarse para buscar fundos que possibilitem a continuidade das atividades de limpeza da praia, capacitação de vendedores ambulantes da região e distribuição de uniformes. Rocha relata que está nos primeiros dias da campanha e busca trabalhar com a expectativa e manter a esperança. “Acredito que temos que tentar porque é uma oportunidade para dar visibilidade para o projeto e para as pessoas que estão fazendo o mesmo que eu na ferramenta de financiamento coletivo. É algo novo para mim e a experiência está sendo muito válida, pois em tudo que fazemos é preciso correr o risco e também temos que tentar envolver as pessoas”.
O Escritório na Praia busca capacitar os vendedores ambulantes, que são considerados multiplicadores da mensagem de qualidade de vida, e também realiza atividades com alunos das redes pública e privada. “Todas as nossas ações são temáticas, já levamos escolas, fizemos oficinas de reciclagem, também temos a campanha ‘troque um quilo de lixo por um brinde’, que sempre motiva as pessoas a participarem. Para este ano, já estamos com a data marcada e a ação de conscientização vai acontecer no Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de julho. A nossa expectativa é conseguir os recursos que faltam com o financiamento coletivo”, diz Rocha.
A coordenadora pedagógica do programa de Jovens, Meio Ambiente e Integração Social do Instituto H&H Fauser, Larissa Neli Faria, foi uma das responsáveis pela busca de arrecadação de fundos pelo crowdfunding para o Além do Vale. Projeto de ciência para Paraibuna. O objetivo era atingir a meta de R$ 4 mil para que os alunos da iniciação científica pudessem participar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia – FEBRACE. “Nós inscrevemos seis projetos e três foram selecionados, mas não tínhamos recursos para chegar à cidade de São Paulo com os estudantes e todo o material que precisaríamos para ficar na feira. Eu já conhecia o Catarse, já colaborei, e decidimos buscar o financiamento coletivo por meio da plataforma”, relata.
De acordo com Faria, todo o processo do projeto foi feito de forma colaborativa. “Mobilizamos gente para fazer o vídeo e o texto de apresentação, o pessoal da plataforma nos ajudou com indicações e orientações. Começamos com a arrecadação pela lista de contatos da ONG, também por meio de redes sociais e pessoas da comunidade. Cada um doou da forma que podia, a maior parte das colaborações veio de amigos e de indicação de amigos. No período final foi difícil, estávamos com somente 70% da meta. Uma amiga fez uma arrecadação na França e conseguimos”.
Outra plataforma brasileira de crowdfunding, a Juntos.com.vc foi criada em 2012 por voluntários de distintas instituições que sentiram a necessidade de conseguir uma nova forma de captar recursos para projetos. Nesse caso, a ferramenta é usada exclusivamente para iniciativas com impacto social, realizadas por ONGs e empreendedores sociais. A Associação Morungaba, conseguiu, com a Juntos.com.vc, arrecadar o valor de R$ 9.951 para o projeto Capa & Livro, que tem o objetivo de estimular a leitura e a escrita entre crianças e jovens que vivem em casas de acolhimento por meio de atividades lúdicas.
O voluntário da Morungaba e um dos fundadores do Atados, André Cervi, conta que inserir o projeto em uma plataforma de crowdfunding foi um processo positivo e, ao mesmo tempo, desafiador. “O financiamento coletivo é um desafio porque ainda não é muito conhecido e é preciso buscar a participação de quem pode apoiar. A Educação é uma das áreas que as pessoas mais querem colaborar e um dos pilares que precisamos desenvolver no país. Com esses projetos conseguimos fazer coisas mais inovadoras, fora da esfera do governo e torna-se possível um financiamento independente, no qual as pessoas confiam no nosso trabalho e nós conseguimos manter os nossos valores”.
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