Dia Nacional Do Ensino Da Música Discutiu a Educação Musical No País

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Percebendo que as crianças estavam deixando de tocar música para dedicar seu tempo livre aos videogames, o inglês Paul MacManaus, diretor da Associação de Música do Reino Unido, lançou em 2012 o National Learn to Play Day. Inspirada pela ideia, em 2013 a Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima) criou no Brasil o Dia Nacional do Ensino da Música, comemorado neste sábado (21/6).

A ação consiste em realizar oficinas musicais – presenciais e online – em diversas cidades do país. Para isso, houve uma convocação nacional que resultou na inscrição de 260 atividades, em 18 estados, que compõem o calendário oficial do evento.

Para Daniel Neves, coordenador do projeto e presidente da Anafima, a educação musical é uma questão econômica. “O ensino da música é necessário para a indústria da música e para a indústria de entretenimento”, afirma ele, que costuma dizer que o instrumento musical é a matéria prima do setor. E se o Brasil fatura bilhões de reais com as festas que têm música, o comércio fatura outros bilhões com o consumo conexo – como bebida e comida.

“Imagine Rio de Janeiro, Bahia, sem som, sem música. E pense no quanto de atividade econômica se diminui sem a música. Agora, volte o som na sua cabeça. Lembre-se que tudo que você ouviu teve um alto falante e um instrumento por trás. É disso que falamos.”

De acordo com a Pesquisa Synovate/Música & Mercado, realizada em 2007, 25% das residências do Brasil possuem algum tipo de instrumento musical. O violão é o mais destacado, com 60% de presença, seguido por algum tipo de instrumento de teclas, como teclado ou sintetizador.

Nos EUA, 40% dos estudantes que estão no ensino fundamental estudam música, de acordo com informações da pesquisa Monitorando o Futuro, elaborado pela Universidade de Michigan. Já no Brasil, não há estudo que revele dados precisos, mas a Anafima calcula que apenas 5% dos que possuem instrumentos em casa fazem uso deles.

“Em uma época em que as crianças buscam videogames e outras brincadeiras intuitivas, o ensino da música foi deixado de lado. É um erro. A música é uma das melhores formas de trabalhar o desenvolvimento cognitivo, coordenação e ouvido”, lembra Neves.

Estudos científicos mostram os benefícios de aprender a tocar um instrumento e o mais comum é relacionado ao aprendizado escolar. De acordo com os editores da revista Scientific American, estudantes do Ensino Médio com o mínimo de quatro anos de estudo musical têm uma performance escolar 40% maior do que os alunos que estudaram entre um ano e seis meses.

Lisa Phillips, autora do livro “The Artistic Edge“, escreveu em um artigo para o blog ARTSblog que os estudantes que se inscrevem em programas de música desenvolvem mais confiança, foco e perseverança. Benefícios reais adicionais obtidos com o ensino da música incluem o aumento da resolução de problemas, dedicação, responsabilidade e colaboração.

Visão de mercado – Se o ensino de música ajuda em tantos aspectos do desenvolvimento pessoal, isso se reflete também no profissional. No entanto, conforme aponta Marília de Sant’Anna Faria, gestora do Estrombo – projeto focado no desenvolvimento da indústria da música do Estado do Rio de Janeiro, através do uso das novas tecnologias -, no Brasil ainda há muito trabalho a ser feito no que diz respeito à formação para o mercado.

Ela acredita, porém, que com a Lei 11.769/08, a inserção da música de forma obrigatória no ensino básico pode contribuir diretamente para a abertura de oportunidades. “A disseminação do ensino de música nas escolas exerce forte influência na formação profissional dos jovens. Portanto, a associação do ensino às novas tecnologias pode contribuir não somente para a indústria, como também para toda a cadeia produtiva da música.”

Nesse sentido, é fundamental que o ensino da música proporcione a troca de informações e conhecimentos associados às reais necessidades da indústria e do mercado musical.

Marília indica que a formação deve estar baseada no desenvolvimento de características e comportamentos empreendedores: a iniciativa, inovação, busca de oportunidades e conhecimento do setor. Assim, é importante associar a capacitação técnica com as oportunidades que o mercado oferece.

“Um dos grandes desafios é formar profissionais que tenham condições de atender às exigências do mercado, principalmente nos aspectos que tratam sobre a produção e a comercialização do conteúdo musical.”

A indústria – Segundo Daniel Neves, o mercado de instrumentos musicais movimenta a média de R$ 1,1 bilhão por ano no Brasil, considerando o preço de loja. Embora ele esteja centralizado na região Sudeste – fornecedores e comércio varejista -, hoje em dia quem está fora dessa região consegue ter acesso a um mix maior de produtos. “Inicialmente os empresários de fora de São Paulo começaram a ampliar suas lojas e tornar melhor a experiência de compra. Agora, com a internet, todos têm acesso à bons produtos, não importando a localização”, afirma Neves.

Além das empresas formais, ainda há os grandes luthiers de guitarras, violões, baterias e até arco de violinos. Mas a importação ainda corresponde a 85% dos produtos disponíveis no mercado.

Apesar de hoje em dia a qualidade das indústrias de instrumentos estar muito competitiva e comparável ao mercado internacional, muitas das compras, diz Neves, beneficiam as estrangeiras, que chegam com preços muito menores.

No caminho inverso, defende ele, o Brasil tem uma indústria completa não só para o mercado interno quanto para exportação. “A Anafima tem o apoio da Apex Brasil, a agência de apoio aos exportadores. Isso dá um ampla ajuda às empresas brasileiras que querem experimentar o mercado internacional e temos recebido um maior número de companhias com interesse em buscar o mercado externo.”

A questão é cultural. As marcas americanas são as mais importadas globalmente, mas talvez porque o americano pense no mercado internacional constantemente. Já o brasileiro não. “Parece sempre que é um passo muito grande exportar”, lamenta Neves. “Muitos empresários que conversamos dizem que ‘primeiro vamos conquistar todo o Brasil, depois pensaremos em exportação’, mas as coisas nem sempre são mais fáceis no mercado brasileiro”.

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