Como E Por Que Conhecer Os Indígenas – Brasil

Com farto material didático e apoio de pesquisas, debates, produções de texto e uma saída de campo, é possível por fim a estereótipos e fazer com que estudantes conheçam mais sobre a vida e a realidade dos índios brasileiros

Beatriz Santomauro
Nova Escola – mês 06 e 07/2014

Costa Rebelo/Creative Commons

indigenasÍndios são selvagens e vivem na floresta. Caçam e pescam para comer, andam sem roupa e não trabalham. Esse foi o conteúdo da maior parte dos textos dos alunos do 5º ano do Colégio Sinodal, em Ibirubá, a 300 quilômetros de Porto Alegre. A tarefa, feita a pedido de Cristiele Terhorst, consistia em escrever o que encontrariam se visitassem uma aldeia.

De posse do material, a docente avaliou o que a turma sabia sobre o tema e então traçou estratégias para abordá-lo. “Os estudantes tinham uma imagem estereotipada dos indígenas. As palavras que usavam para descrevê-los eram as mesmas dos dominadores europeus, por exemplo”, ela conta.

O desafio era discutir a história desses povos que habitam o país desde muito antes do descobrimento (inclusive a região de Ibirubá), pesquisar a vida deles e algumas características que permanecem até hoje e as alteradas. O trabalho também tinha como objetivo fazer com que os alunos passassem a conhecer mais e respeitar o que até o momento parecia tão diferente e distante (além de estranho, já que Ibirubá tem forte influência da colonização alemã).

Para organizar a sequência didática, Cristiele estudou bastante. Na época, a professora polivalente era mestranda em História pela Universidade Federal de Passo Fundo (UPF) e aproveitou o que aprendia para trabalhar com a criançada.

IMAGENS QUE REFORÇAM ESTEREÓTIPOS
O livro O Povo do Pampa (Luíz Carlos Tau Golin, Ed. UPF) não é para crianças. Ainda assim, a professora usou o material porque ele contém informações confiáveis e resultados de pesquisas sobre os habitantes do Rio Grande do Sul. Para ajudar a classe a compreender o conteúdo, propôs uma leitura coletiva e discussões parágrafo por parágrafo.

Reproduções de obras de arte, mapas e ilustrações também foram motivo de conversa. Observando pinturas, algumas do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), a turma questionou: “Por que o índio tem cara de bravo?”, “Será que o artista estava no meio de uma luta e pintou porque ficou com medo?”. Além de informar sobre alguns hábitos deles na época, a educadora aproveitou para falar dos artistas estrangeiros que, nos séculos seguintes ao descobrimento do Brasil, eram encarregados de registrá-los.

Analisar as ilustrações, segundo Leonardo Palhares, historiador e professor do Colégio Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, é essencial para compor aulas da disciplina. Para ele, a boa análise inclui a discussão sobre o que é mostrado, quem é o autor, a data da produção, por qual motivo e como cores, cenário e espaço são apresentados. Durante o mestrado, ele pesquisou imagens de povos indígenas em livros didáticos. “Há alguns anos, a figura do índio como selvagem era dominante. Hoje, é a do protetor da floresta. É interessante notar a mudança de olhar, embora as representações continuem estereotipadas.”

Na etapa seguinte, Cristiele dividiu a classe em grupos e cada um ficou responsável por estudar uma etnia – caingangue, guarani e tupiniquim (os dois primeiros estão presentes no Rio Grande do Sul) – e depois organizar apresentações orais. A professora distribuiu textos com informações de cada um dos povos e pediu que os alunos anotassem o que chamava a atenção, como lendas, arte, rituais, além de dados sobre o modo de vida e onde as aldeias se localizam atualmente. Aos estudantes também foi dada a tarefa de pesquisar mais na biblioteca da escola.

Para Araci Coelho, historiadora e docente do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abordar as diferenças entre os povos indígenas é essencial para dar conta da pluralidade. “Não faz sentido falar do índio brasileiro como se fosse um só. O adequado é tratar dos índios, no plural.

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