De Pernambuco Para O Mundo

21 DE OUTUBRO DE 2014

Espaço-Garimpo-Divulgação

Espaço Garimpo Divulgação

O tempo, embora não controlável, é um dos aspectos que pode influenciar um empreendimento. As mudanças de cenário e mercado são fatores que podem levar uma empresa ou produto tanto ao sucesso, de acordo com demanda e oportunidade, quanto ao fracasso.

A pernambucana Germana Uchoa sabe bem disso. Ela é criadora do Espaço Garimpo, plataforma de comunicação, educação e negócios de moda e design. Participante do programa Empreendedores Criativos em 2011, ela afirma: não apenas o seu empreendimento, mas sua vida pessoal passaram por grandes transformações nos últimos três anos.

Morando atualmente na Alemanha, a empreendedora criativa falou sobre essas mudanças.

Empreendedores Criativos – O que te motivou a participar do programa Empreendedores Criativos?
Germana Uchoa – O ano de 2010 foi bem importante pra mim, pois foi quando resolvi rever meu estilo de vida. Na época, estava grávida da minha filha Anita e já tinha dois filhos: Matheus, já adolescente, e Romeu, com quatro anos. Foi um ano lotado, corrido e muito estressante. Tinha um bistrô com uma loja dentro, um ateliê de moda com uma marca rodando, um projeto de uma pop up para promover novos talentos da moda e design no mercado do Recife. E ainda ministrava aulas numa faculdade de comunicação, além de atender ao Sebrae com consultoria e cursos.

Queria fazer tudo ao mesmo tempo e não conseguia. Foi quando decidi colocar um fim naquela loucura toda e escolher o que de fato me fazia feliz como empreendedora. Deixando de lado todos os outros trabalhos, passei a me dedicar ao projeto que mais acreditava. Foi quando, em meio à pesquisa para redesenhar o meu negócio, cheguei ao programa Empreendedores Criativos, que juntava colaboração, consultoria e programa em rede, dentro da Economia Criativa. Sabia que seria onde encontraria os meus pares.

EC – O que era o seu empreendimento antes da sua participação no EC e o que ele é hoje?
GU -Iniciei o Espaço Garimpo como uma pop up, um espaço comercial que conectasse a moda a outras áreas criativas. O objetivo era promover novos talentos da moda e design no Recife. Já havia feito alguns eventos e ações e percebi que era necessária uma mudança, mas não sabia qual. Após participar do programa, a primeira ação foi encontrar os parceiros certos para transformar meu negócio em uma empresa articulada, relevante e inovadora. A ideia era criar uma plataforma online com serviços, capacitações, oportunidades e promoção para novas marcas da moda e design.

As ações começaram a acontecer: eventos, cursos, palestras, encontros, outras pop ups. E o modelo de negócio começou a ser transformado. Em 2012, ganhei o Prêmio YCEA, do British Council, na categoria moda. Fui para Londres com mais 30 empreendedores do mundo todo e tive a oportunidade de participar de eventos, visitar incubadoras, laboratórios criativos e participar de palestras com jornalistas, lojistas e produtores do Reino Unido. Em 2013, fui uma das 10 selecionadas para participar do Projeto Recife: The Playable City, uma residência em Bristol. Junto a 10 ingleses experientes no assunto, pude vivenciar uma experiência numa cidade interativa e “brincável” e transformar Recife. Foram experiências incríveis e inesquecíveis.

A Garimpo virou um espécie de articulador e consultoria para empreendedores de moda, a saída para a sustentabilidade foi fazer parceria com a incubadora de Moda, lançada este ano em Pernambuco, além do Sebrae. Realizei mapeamentos, pesquisas, ministrei cursos, fiz seminários sobre moda e economia criativa, fizemos exposição interativa com designers, onde os visitantes interagiam com eles através de QRcode. Desde junho estou finalizando as ações e trabalhos do Garimpo no Brasil, pra começar uma fase de internacionalização da plataforma. A ideia é redesenhar o negócio para que possa atender um maior número de empreendedores e tornar a empresa mais independente. Estou lançando um app até o ano que vem, pretendo lançar um livro com todas essas vivências e lanço um curso e consultoria através do site em março, assim continuo morando na Alemanha para estudar o mercado e ter uma espécie de representação comercial internacional.

EC – Quais as principais mudanças na sua atuação como empreendedor de lá pra cá?
GU -O programa foi um passo importante para a minha conexão com um mercado muito maior do que o de moda, o de Economia Criativa, não só local, mas nacional. Com a visibilidade que tive, o projeto ficou conhecido, as ideias e estratégias também, e com isso a empresa surgiu e cresceu. Dei início a vários projetos com o poder público, com o Sebrae, setoriais de moda, universidades. Dei muitas palestras e oportunidades de trabalho e prêmios começaram a surgir. Como empreendedora comecei a ver um mar mais azulado na minha frente. Mudei comportamento, criei rotina, planejei muito e criei metas importantes para a sustentabilidade do meu negócio. Acho que me tornei mais forte, acreditando mais em mim e nas minhas idéias, mesmo continuando querendo tudo ao mesmo tempo, toda hora, sempre. Isso ainda está difícil de controlar.

EC – Quais foram as mudanças no cenário/mercado de atuação durante o período e o que isso acarretou?
GU – Quando criei o Espaço Garimpo, em 2007, Recife vivia uma fase parada em relação aos eventos de moda. Três anos depois, começaram a surgir eventos, bazares, brechós e lojas interessantes, que deram espaço aos criadores locais. A internet também movimentou o mercado, com as lojas online. Foi a partir daí que percebi a necessidade de mudar rápido.

As marcas que participaram do Garimpo abriram espaços coletivos, começaram a promover eventos e lançar coleções em parceria, o que foi ótimo para o mercado. Foi o momento ideal para repensar o negócio e lançar a plataforma, com cursos, consultorias, livros, palestras e ferramentas para que o empreendedor criativo gerisse suas marcas de maneira criativa e sustentável. O problema: a maioria não tinha verba para investir em nada além dos produtos e design, o que deixava a gestão para depois. Foi aí que a solução surgiu na forma de parceria com o Sebrae e instituições que pudessem pagar para que as ações acontecessem. Isso por um tempo foi bem interessante, mas a longo prazo nada sustentável.

EC – Você fez alguma mudança no seu modelo de negócios? Qual?
GU – Várias. Ampliei segmentos de clientes, mudei tipo de parceiros e rotina, investi em novos canais de comunicação e promoção do negócio, identifiquei novos recursos, enxuguei estrutura de custo e encontrei novas fontes de receita. No momento estou numa fase parecida com a de 2010, só que com mais experiência, mais foco, mais conhecimento. A primeira grande mudança foi transformar uma pop up, que era um evento, em algo mais estratégico e relevante. A ideia é integrar a plataforma com outras ações para solucionar problemas dos empreendedores de moda e fazer a primeira pop up internacional neste tempo que estou morando aqui na Alemanha. Assim, testo o mercado, o modelo de evento, promovo marcas brasileiras aqui, além de gerar experiência para o visitante e, assim, poder interagir com o público. Pra isso, preciso identificar marcas que se sintam prontas para exportar. A Espaço Garimpo virou uma espécie de guarda-chuva onde investimos em Promoção de Talentos e Marcas.

EC – Quais os seus próximos passos como empreendedor criativo?
GU – Estou redesenhando o negócio para funcionar online e poder atender a outros mercados, inclusive fora do Brasil. Estou morando na Alemanha, garimpando referências, visitando possíveis parceiros, conectando e articulando com outros empreendedores, instituições e escolas. O intuito é estudar para poder decidir melhor o que mudar e o que manter. Quero muito investir no meu trabalho de Coolhunter, que é o que me dá mais vontade de continuar. E o trabalho de consultoria, que me faz contribuir para transformar os negócios mas, principalmente, as pessoas. O meu propósito nisso tudo é colaborar para melhorar a vida dos outros e a minha vida também.

EC – Empreender é uma opção ou uma vocação?
GU -Acho que os dois. Acredito que tenho um propósito importante e que posso contribuir para algo novo e fora da zona de conforto desse mercado. Mesmo recebendo propostas interessantes de trabalho, não acho que me enquadro mais nos modelos que estão por aí. Pelo menos, não até agora. Desde que decidi empreender, minha vida mudou muito. Coisas incríveis acontecem nesse mundo, pessoas interessantes estão por aí e a gente não consegue ver e muito menos viver nada disso se estivermos dentro de uma empresa que não dá liberdade e ferramentas para crescer e contribuir para o negócio. Vivi isso por quase 15 anos e não foi nada fácil.

Não estou dizendo que empreender é fácil. Pelo contrário: é bem desafiador. Mas é a gente que conduz o barco, com colaboração, parcerias e muito trabalho. Investimos no que acreditamos. Podemos ir até onde nem sabemos que podemos. E essa liberdade não tem preço. Não acho que consigo em lugar nenhum.

EC – Se não tivesse esse empreendimento, com que estaria trabalhando atualmente?
GU -É bem difícil dizer. Acho mais fácil definir o que NÃO gostaria de estar fazendo. Sempre amei trabalhar com pesquisa e essa seria uma saída pra achar propósito em voltar para o mercado. Trabalhar na área estratégica de uma empresa criativa, mesmo que não fosse de moda, de tecnologia, talvez, ou que unisse as duas coisas, também seria uma opção. Uma associação, incubadora, algo assim, poderia me fazer pensar. Ou, quem sabe, encontrar uma empresa que estivesse aberta para intervenções criativas, articulações e projetos para algo maior, como mudar o mundo. Quem sabe? Não é isso que nós empreendedores queremos no fundo dos nossos corações?

originalmente no site Empreendedores Criativos –

POR ELSA VILLON – Jornalista, fotógrafa e aspirante a cineasta. Já trabalhou no Catraca Livre, Centro Cultural São Paulo e é repórter do Empreendedores Criativos.

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